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23 julho 2012

Denúncia contra o Concurso Público do Amapá: a velha história entre Língua Portuguesa Versus LIBRAS.


Em primeiro lugar, não estou atacando o direito dos surdos que moveram a ação contra o Concurso Público da Educação do Estado do Amapá promovido pela Fundação Universa no dia 14 e 15 de julho de 2012, sei que posso ser criticada por colocar minha sincera opinião. Vou citar minha colega Só Ramires do Blog SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa):

“Não sou contra o uso de LIBRAS, mas sim faço questão de lembrar que esse recurso não promove educação de todos os surdos.”

Quando me deparei com essa notícia, pensei muito de que maneira colocaria no meu Blog sobre isso, afinal, é um assunto muito delicado, concordo com Só Ramires, só para eu não queimar a língua do por quê não concordar com algumas coisas, deixarei algumas considerações aqui:

Eu prestei concurso para Fundação Universa dia 23 de Junho de 2012, eu coloquei que era uma pessoa com deficiência, que fazia leitura labial e não fazia o uso de LIBRAS, no dia da prova, cheguei lá e tinha duas fiscais, e fiz a prova tranquila e sozinha sem depender de ninguém, eu não precisei que eles traduzissem toda a prova pra mim, afinal, eu sei Língua Portuguesa e faço o uso dela diariamente na minha vida, e também ia fazer esse concurso da Educação, mas acabei não me inscrevendo porque não tinha pra minha área, e cá entre nós, eu não estaria incluída na luta deles, com todo meu respeito, porque eu não sairia prejudicada por falta de um bom e vários intérprete de LIBRAS e este não ter TRADUZIDO a prova direito.

Eu fiquei pensando aqui, eles querem que traduzam todo o texto da prova, então eles não sabem português? Isso mesmo, fiquei indignada com isso, afinal, eu creio que nossa primeira língua deveria, sim, ser o português e depois LIBRAS, e esta torna-se opção de cada um. E ainda coloco, eles não estão errados em processar, afinal, a educação passada a eles foi baseada nas LIBRAS e a Fundação Universa errou ter colocado apenas um intérprete pra muita gente ,falta de uma sala só para eles e fora o uso de câmeras, portanto, é um direito deles e está na Lei. 

Agora, pensei o seguinte, acho um exagero querer cancelar o concurso, muita gente sairá prejudicada, todos os concurseiros sabem português, inclusive, outras pessoas com deficiência, e não deixo de enfatizar, quem leva a culpa disso tudo são os profissionais que pregam a todo custo que surdos deveriam aprender APENAS LIBRAS e não dando opção a eles de aprenderem português, pelo menos, ler e escrever.

Abaixo a reportagem sobre o ocorrido:

Fonte: Portal Amazônia (20 de julho de 2012).
A denúncia foi feita por deficientes auditivos que se sentiram prejudicados
http://www.portalamazonia.com.br/editoria/wp-content/themes/editoria/imagens/icon-escrito.png Redação - jornalismo@portalamazonia.com
MACAPÁ – A Promotoria de Justiça e Cidadania notificou nesta quinta-feira (19), a Fundação Universa, responsável pela realização do concurso da educação ocorrido no último fim de semana, por descumprimento a Lei 10.436/2002 que garante a inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) nas esferas municipais, estaduais e federais como meio legal de comunicação e expressão de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria.

A denúncia foi feita por 34 candidatos com deficiência auditiva que se sentiram prejudicados pela maneira como a prova foi aplicada. Os denunciantes relataram que na sala em que fizeram prova havia só um intérprete de libras que demonstrou despreparo e, ainda, não traduziu todo o texto da prova, alegando que não podia. Eles também reclamaram de câmeras direcionadas somente a eles.

Para os deficientes auditivos, o constrangimento sofrido dentro da sala de provas prejudicou o desempenho de todos os candidatos que precisavam de um tradutor de libras capacitado e que desenvolvesse seu papel adequadamente, conforme está previsto na Lei.  Ainda segundo a denúncia, a Fundação Universa não se preocupou em reservar de forma organizada uma única sala para todos os não ouvintes fazerem a prova.

De acordo com o promotor de justiça Pedro Leite, após receber a notificação pedindo esclarecimento do ocorrido, a Universa tem dez dias, prazo estipulado por lei, para encaminhar resposta à Promotoria de Justiça. Com base na justificativa da Fundação e se for confirmado os itens que constam na denúncia e que infringem a lei, a instituição será obrigada a aplicar uma nova prova para os candidatos que foram prejudicados.

Caso a Secretaria Estadual de Educação e a Fundação Universa se recusarem a aplicar uma segunda prova para os candidatos prejudicados, o concurso poderá ficar inválido para todos que participaram do processo seletivo. Isso ocorrerá se os deficientes auditivos ingressarem com uma ação civil pública pedindo anulação do concurso na Justiça.



19 julho 2012

Surdos Oralizados: Nós Existimos!


Que Saudaade do Blog, é pouco visitado, mas daqui a um ano será novamente conhecido, a culpa é toda minha, não tenho muita paciência para mexer nesse abandonado! Rsrsrs. Como sempre deixo claro, meu blog é exclusivamente pessoal, igual um diário, então escreverei aqui uma coisa bem legal, para os leigos!

Em primeiro lugar não somos uma nova raça e nem cultura, estamos completamente inseridos na sociedade “ouvinte”, somos independentes, falantes, a maioria não sabe LIBRAS, alguns são bilíngues (LIBRAS e oralizados), fazemos leitura labial, usamos aparelhos auditivos, alguns são implantados, alguns até ouvem muito bem com aparelho e sem leitura labial, e nossa primeira língua é a querida Língua Portuguesa, isso mesmo, essa maravilhosa língua que nos dá acima de tudo a independência de ir e vir.

Uma coisa importante que me esqueci de colocar acima, todos nós FALAMOS, há um mito em torno da surdez, a maioria dos leigos acredita (quase que uma certeza, que chega a ser assustador) que todo surdo é MUDO, não é bem assim! Como eu disse logo acima, esse post é para os LEIGOS, especialmente para meu querido Amapá.

Aqui a informação sobre a existência de surdos oralizados é precária, sempre que vou a algum lugar e conheço uma pessoa nova, esta sempre começa falando comigo em gestos, eu digo logo que sei fazer leitura labial e posso falar,antes me frustrava com isso, hoje não, sou sempre sincera. Já aconteceu de eu conhecer professores, pedagogos e chegam falando em LIBRAS comigo, mas eu não entendo, é claro, eles me olham com repulsa, eu explico, na maior educação possível.

E descobrir, graças à linda internet, navegando e pesquisando, a existência de muitos surdos oralizados, primeiro eu comecei lendo o Blog de Lak Lobato (Desculpe Não Ouvi) e depois apareceu o Blog de Paula Pfeifer (Crônicas da Surdez), e graças ao Blog de Lak Lobato eu descobrir o Blog de Só M Ramires (SULP- SURDOS USUÁRIOS DE LÍNGUA PORTUGUESA), Lak Lobato fala de sua experiência sobre ser implantada (Implante Coclear) e Paula aborda vários assuntos muito legais em torno da surdez,e Só Ramires  fala exclusivamente de um tema que mais amo, melhoria da acessibilidade para surdos que usam, em primeiro lugar, a língua portuguesa, enfim, todas falam da falta de acessibilidade para os surdos oralizados, como nós somos, experiências, aparelhos auditivos e tudo o mais  e fora o vários comentários que os blogs recebem , é claro sempre servindo de inspiração para eu dar continuidade ao meu blog vagabundo! Rsrsrs

Ser surdo oralizado, no meu ponto de vista, acredito que da maioria também, é conquistar sua independência no mundo, o prazer de falar, de conversar com todo mundo, ouvir música, de ouvir com ajuda da tecnologia 
etc.. é simplesmente cativante e viciante, todo dia é uma aventura e um orgulho. Chamo isso de ADAPTAÇÃO, e nossa adaptação na sociedade é completamente diferente de uma pessoa “normal”. Abaixo vai algumas características da nossa sobrevivência:

·         Não falamos ao telefone, porém há exceções naqueles que conseguem ouvir pelo telefone com o uso de aparelho auditivo, já eu não chego perto disso, escuto uma voz do além no telefone (Não entendo nada! RS)

·         Fazemos leitura labial, alguns fazem o uso dela para entender melhor pelo aparelho auditivo, é como eu, difícil eu entender fonemas pelo aparelho, tenho que sempre prestar atenção nos lábios.

·         Adoramos acima de tudo tecnologia, há muitos surdos oralizados com todos os tipos de grau de surdez (parcial a severa), há aquelas que nasceram surdos e são implantados desde bebês ou na adolescência ou adulto ou simplesmente fazem o uso de AASS, e utilizaram de artifícios como fonoterapia para não perder a fala, há aqueles que ficaram surdos depois de ter aprendido a falar (no meu caso, eu fiquei surda, mas não era alfabetizada), muitos aderem à tecnologia para não perder a falar e a capacidade auditiva de reconhecer sons.

Porém, sempre há uma barreira freando a melhoria da acessibilidade para surdos oralizados (falarei disso no próximo post). Bom! Espero que tenham gostando, estou meio enferrujada para escrever, mas o tempo me dará muita inspiração! heehehe

Beijos do Ouvido!